Reflexões sobre a culpa

O que é a perfeição para os seres humanos? Não errar, estar tranquilo, se encaixar aqui e ali, ser igual a multidão...?

Costumamos ouvir bastante o “ninguém é perfeito”, mas nem sempre sabemos como contextualizar a frase em aspectos mais profundos. Quem nunca quis retornar no tempo por ter se arrependido de algo que fez? Quem nunca ouviu falar de alguém que vive se culpando por erros do passado e não consegue seguir adiante, porque sua consciência vive em conflito? É preciso buscar um equilíbrio entre caminhada ideal e ideal de caminhada para que consigamos encontrar a paz psicológica e emocional. Da mesma forma que ser negligente com a vida vivendo de maneira irresponsável é desaconselhável, viver carregando culpas também o é.

Como seres humanos não somos seres prontos, estamos em constante aperfeiçoamento, aprendendo a sobreviver dia a dia. É muito natural que algo pareça óbvio hoje e, amanhã, não tenha relevância. Quando dizemos que se pudéssemos voltaríamos atrás e faríamos de forma diferente, isso não parece verdade, sugere uma força de expressão. Não seria possível voltar ao que se fez e fazer novamente, seja diferente ou da mesma maneira, afinal, quando a experiência passa, ela já foi arquivada e apreendida, fazendo com que o ser já seja diferente, com pensamentos e sentimentos renovados.

Para se ter mudanças e melhoras de comportamento e sentimentos é necessário viver e reavaliar cada passo dado, para a partir das experiências já vividas ter uma visão mais madura de como representa a si mesmo(a) no campo da vida. A nossa liberdade existencial faz com que possamos escolher cada passo dado e decidir se ficamos presos ou não em conflitos e velhas culpas.

Não se culpe. No máximo arrependa-se, pois se arrepender abre portas para a renovação de atitudes. Culpar-se somente aprisiona. Quando nos arrependemos verdadeiramente e renovamos nossas ações, nos libertamos. Não se culpe pelo equívoco, ele te aprisiona ao passado que não pode ser mudado, e se punir com isso não ajudará em resultados melhores. Abra seu coração e siga adiante renovando-se e experimentando na medida do possível gratidão e alegria em poder se renovar e aprender com os velhos erros.

Feliz de quem aprende e/ou tenta viver assim. Além de se tornar uma pessoa melhor e responsável, ainda não deixa de saborear o gosto de cada descoberta, ainda que por vezes descubramos que nem tudo tem o sabor doce que gostaríamos. Viva, sem culpas, mas com úteis arrependimentos.

Bruna Bracarense Romano Psicóloga Clínica - Terapeuta Cognitiva Comportamental CRP MG 04/31.002